20/05/2014 12:45 | Por ESPN.com.br com agência Gazeta Press- espn.com.br
Em entrevista ao jornal francês Le Journal du Dimanche, o autor de "O alquimista" detonou o Mundial, disse que não irá aos estádios e atacou e o ex-jogador Ronaldo
Getty Images
Paulo Coelho bateu forte no ex-craque Ronaldo
O escritor brasileiro Paulo Coelho foi um dos VIPs presentes no evento da Fifa que apontou o Brasil como sede da Copa do Mundo 2014, ainda em 2007. Muito tempo depois, ele parece estar bastante arrependido de ter comparecido à festa de gala.
Em entrevista ao jornal francês Le Journal du Dimanche, o autor de "O alquimista" detonou o Mundial, disse que não irá aos estádios e atacou e o ex-jogador Ronaldo, membro do Comitê Organizador Local do torneio de seleções.
"Está fora de questão! Assistirei aos jogos pela TV, mas eu não vou (ao estádio). Eu tenho dois ingressos para jogos, e eu estava na delegação oficial com Lula, Dunga e Romário quando a Fifa escolheu o Brasil. Estou muito decepcionado com tudo o que aconteceu desde então. Nós poderíamos usar o dinheiro para construir algo diferente de estádios em um país que precisa de tudo: hospitais, escolas, transportes", disse Coelho. "Ronaldo é um imbecil por dizer que não é o papel da Copa do Mundo para construir esta infraestrutura. Ele deveria fechar a boca. A Copa do Mundo pode ser uma bênção e um momento de comunhão para nós como foi para a França ou a Alemanha. Mas é um desastre.", completou. Apesar das críticas, Paulo Coelho também se revelou um fanático por futebol na entrevista, e apontou a seleção brasileira como favorita a conquistar o título do Mundial.
"Brasil, eu espero (que ganhe)! Eu gosto muito do Marcelo e do Neymar. Sou um espectador apaixonado, posso desligar a TV com raiva se as coisas não saem do jeito que eu quiser. Em 1994, eu preferi ir à praia do que ver a disputa de pênaltis da final Brasil e Itália. Meu coração não poderia suportar aquilo", contou.
Garfield, Hello Kitty e Popeye foram alguns dos novos personagens que entraram para apoiar a causa
MSN Estilo | Por Redação
Em novembro do ano passado, a GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), em parceria com a agência Olgivy Brasil, idealizou uma campanha criativa chamada “Carequinhas”. A ação mostrava alguns personagens infantis brasileiros, como os da Turma da Mônica, em versões sem cabelo. A intenção era combater o preconceito e mostrar a todos que uma criança com câncer merece ser tratada como qualquer outra, independente se ela tem cabelo ou não.
Segundo a instituição, a iniciativa alcançou cerca de 120 milhões de pessoas, conquistando 91% de aprovação do público na internet. Com esse resultado positivo, uma nova etapa foi lançada: a internacionalização do projeto. Assim, como abril é o Mês Internacional de Combate ao Câncer, novos personagens de diferentes países ficaram carequinhas para apoiar a causa: Popeye e Olivia Palito, Snoopy, Hello Kitty, os pássaros do filme “Rio 2” e Garfield foram alguns deles.
Para ampliar a campanha globalmente, um site foi lançado para o público conhecer todo o conteúdo do projeto (www.baldcartoons.com). Na página, é possível ver vídeos e baixar pôsteres, além de escolher o avatar de um dos personagens participantes para espalhar o bem nas redes sociais.
Com o movimento Carequinhas, o GRAACC também quer chamar a atenção para o fato de que hoje as chances de cura do câncer infantil são de cerca de 70%, quando o problema é detectado precocemente e tratado de forma adequada.
Yves de La Taille é um educador e psicólogo francês naturalizado brasileiro, especializado em desenvolvimento moral. É professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Mais um importante nome da educação que participará do 17º Seminário Língua Viva com a palestra de tema "Moral, Ética e Contemporaneidade."#SalipiEuVou
Novos materiais bilíngues prometem ampliar as possibilidades de comunicação entre pessoas surdas e ouvintes
Por Camila Ploennes
O professor Rafael Dias conversa com Pamela: sinal de "correto" para a resposta da aluna
É a última aula de terça-feira para o 2º ano A da Escola Estadual Dom João Maria Ogno, na Vila Esperança, zona leste de São Paulo. O professor de geografia Paulo Afonso Del Pino escreve na lousa um resumo sobre as máfias japonesa, russa, italiana, até que a lousa acabe e ele apague tudo para, em seguida, escrever mais.
Os alunos participam desse ciclo de cópia, cada um a seu modo - uns conversam ou jogam bolinhas de papel no lixo, outros checam o celular ou simplesmente reproduzem no caderno as frases do quadro-negro.
No meio de uma sentença, Pamela de Souza Alexandre, de 18 anos, para de copiar, franze a testa e aponta em suas anotações a palavra "gangue" para o professor Rafael Dias Silva, que explica, com as mãos, que aquele conjunto de letras descende da língua inglesa, é sinônimo de "quadrilha" e significa um grupo organizado de malfeitores.
Contraste A primeira língua de Pamela é a Libras, a Língua Brasileira de Sinais. A surdez não a impediu de aprender a ler e escrever em português, embora a deficiência influa para esse aprendizado ser difícil e mais tardio. Ela está a um ano do vestibular. Mas sua alfabetização em língua portuguesa começou de forma efetiva há praticamente um ano.
Pamela chegou ao ensino médio sem compreender sentenças simples na lousa e sem entender plenamente as quatro operações básicas de matemática. Hoje, resolve logaritmos. E o que faz a diferença nessa história é a atuação do professor interlocutor de Libras durante todas as aulas do curso regular, profissional inexistente na escola onde Pamela cursou o fundamental.
Educadores como Rafael e estudantes como Pamela são a cara viva da proposta para a inclusão de surdos nas escolas do país (leia quadro sobre o crescimento de matrículas abaixo). Só a EE Dom João Maria Ogno, onde Pamela estuda, conta com quatro professores interlocutores de Libras, incluindo a docente responsável pela sala de recursos. Não à toa, dois importantes dicionários estão a caminho do público este ano, vindos das mãos de quem está na linha de frente das salas de aula da escola e da universidade.
Um deles está em elaboração desde o início de 2013 no Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos), órgão vinculado ao MEC que se tornou a maior referência do país na área. O nome do projeto é um neologismo da Libras, o "Manuário", termo criado por um ex-aluno surdo, que na prática é um dicionário bilíngue Libras-Português e Português-Libras de termos acadêmicos da área de pedagogia, já que o foco da instituição é formar professores que trabalham na educação de surdos, inclusive preparando docentes surdos.
A previsão é de que o Manuário seja lançado em uma plataforma on-line e gratuita até o 2º semestre de 2014, mas a TV Ines, no próprio site do instituto, vai começar a veicular vídeos de sinais já definidos para algumas palavras a partir de maio. Assim, o público geral já poderá acompanhar os primeiros resultados do Manuário no canal.
- Há uma grande relação de sinais de Libras em uso no âmbito do Ines, que oferece o curso de graduação bilíngue de pedagogia. Porém, a circulação desses sinais hoje é interna, nos cursos do instituto. Daí a ideia de ampliar a circulação desse vocabulário pela internet - explica Janete Mandelblatt, professora do Ines e uma das organizadoras desse trabalho.
Como a Libras é muito diferente da língua portuguesa, quem cria o sinal para uma palavra? Quando começou a lecionar no Ines, Janete, que tem formação em letras e ciências sociais, falava em português e contava com um interlocutor de Libras. Conforme apresentava um conceito ou um autor novo em sala, percebia que o interlocutor fazia primeiro a datilologia (soletrava a palavra) e na segunda menção já usava um sinal específico para a palavra que antes havia soletrado. Ela notou que o sinal era sugerido pelos próprios alunos surdos, assim que se familiarizavam com o tema proposto.
Cresce o número de alunos surdos no país
Um levantamento exclusivo da revista Língua, com base em dados do Censo da Educação Básica, enviados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) a pedido da reportagem, mostra aumento de 47,6% do número de matrículas de estudantes surdos no ensino fundamental regular entre 2008 (12.109) e 2012 (17.872). E, embora a quantidade de alunos despenque na passagem de etapa, no ensino médio o crescimento é expressivo: as matrículas subiram 80,2% no mesmo período, passando de 2.199 para 3.964.
Nos cursos de graduação, os inscritos também têm aumentado pouco a pouco: passaram de 1.582 em 2011 para 1.650 em 2012, crescimento de 4,3% de um ano para outro, segundo o Censo da Educação Superior.
Organização
Junto com a diretora de Educação Superior do Ines, Wilma Favorito, e outras quatro docentes - Chryslen Souza, Leda Santanna, Rita de Cássia Pinto e Rosa Maria Borba da Cruz - Janete passou a organizar as seções de validação daqueles termos criados e usados internamente.
- Pessoas com audição não criam sinais de Libras; nós só coletamos o que os alunos e professores surdos elegem como o mais apropriado. É um processo trabalhoso, pois precisamos ter certeza de que todos entendem muito bem o que estão vendo para que possam materializar em sinais aquilo que veem - detalha.
Compõem o Manuário sinais tanto para conceitos quanto para nomes de autores abordados em pedagogia, que, por ser uma área abrangente, exige conhecimento sobre campos diversificados como os estudos da linguagem, de ciências sociais e psicologia.
A equipe já registrou sinais validados para 100 conceitos e 50 nomes de autores. O nome do recentemente falecido teórico cultural Stuart Hall, por exemplo, ganhou um sinal peculiar: o movimento de abanar a boca com a mão. Uma pista do motivo? Seu sobrenome foi associado pela comunidade surda à marca da bala refrescante. (Veja mais em: Pensadores em sinais)
O número de 150 verbetes pode parecer modesto, mas é considerado um feito, dado o complexo processo de escolha do sinal perfeito para cada termo. Tanto é que 2013 acabou sem a votação dos sinais de algumas palavras e, por isso, o trabalho continua neste ano.
Outro livro de referência que está no prelo é o Dicionário de Libras na Ciência, encabeçado por Rafael Dias, o professor interlocutor de Libras das aulas presenciadas por Pamela. Sua área de licenciatura é em ciências, daí o foco do dicionário, que será lançado em agosto de 2014, em versão impressa. A ideia é unificar os sinais da área científica para que estudantes possam se entender na sala de aula e em encontros com pessoas de qualquer região do país.
- Hoje um aluno do Acre aprende fotossíntese ou efeito estufa de um jeito diferente em relação ao de um aluno da Bahia ou do Sul, o que provoca muito ruído de comunicação em situações como congressos científicos, por exemplo - explica Rafael.
O professor aponta que esse ruído é comum no Prolibras, o Exame Nacional para Certificação de Proficiência no uso e no ensino de Libras e para Certificação de Proficiência na tradução e interpretação de Libras / Português / Libras.
- Até 2010, as provas eram feitas no Sul [pelo MEC em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina]. Então, muitas vezes os avaliadores viam sinais dos paulistas e reprovavam, porque não os reconheciam. Desde 2011, o exame é feito no Rio de Janeiro, pelo Ines. E alguns desses amigos meus, reprovados no Sul, acabaram de passar na prova, porque nós, paulistas, estamos mais pareados com o Rio, reconhecemos e até usamos os sinais cariocas muito mais do que quem está em Santa Catarina.
Foi em um congresso catarinense, aliás, que Rafael pôde verificar o quanto Libras e português interagem apesar de suas diferenças de classes de palavras. A interjeição "bah!", que exprime espanto na oralidade da região Sul, foi incorporada pela Libras. O sinal para "bah!" é a letra "B" rapidamente seguida da letra "A".
Rafael também não cria os sinais do dicionário que pretende lançar. Colhe os que são validados pela comunidade surda e só a partir de então passa a usá-los e divulgá-los.
- Visito as capitais e o Distrito Federal e trabalho com as escolas na validação dos sinais.
A ideia de Rafael é que seu dicionário seja uma referência para a área de ciências, tão importante quanto o Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira, de Fernando Capovilla. A obra do professor titular do Instituto de Psicologia, da USP, é para a formação de proficientes em Libras.
Novos campos
- É importante desenvolvermos pesquisa e materiais voltados para ciências naturais, porque faltam referências desse tipo nas escolas e, no fim, isso se reflete em todos os ciclos escolares. Desde a criança que está aprendendo sobre lixo no 5º ano até o jovem que vai prestar vestibular.
O próximo projeto de Rafael é escrever um livro sobre como explicar campo magnético - conceito de descrição abstrata - a estudantes surdos, usando materiais de laboratório. O volume é parte de seu trabalho de formação de professores. Hoje, Rafael é professor de Libras da USP-Leste e em outros municípios.
Enquanto o dicionário não é lançado, Rafael interage com docentes do Brasil todo que acompanham uma página criada por ele para compartilhar artigos e material de formação (facebook.com/librasnaciencia). Mais recentemente, passou a usar um canal do YouTube para hospedar vídeos de sinais da área de ciências.
- Você acaba ajudando muita gente pela internet, porque o acesso a esse tipo de material já é difícil em uma cidade como São Paulo, imagine em cidades pequenas. Muitas crianças estão passando por toda a fase escolar e não estão aprendendo nada.
A escolha de Rafael por dar aulas numa escola estadual tem um motivo claro: a função de interlocutor de Libras é um trabalho personalizado, de conversa e troca de informações para que os estudantes compreendam os temas das aulas tanto em português quanto em Libras. Soma-se a isto o desafio de lecionar as doze disciplinas do currículo.
- Um aluno surdo precisa dominar o termo em português para conseguir ler um texto, fazer uma pesquisa, conversar com um colega e estudar com autonomia - conta Rafael. O professor notou que o processo de ensinar português e Libras a estudantes surdos não é algo que funciona isoladamente dos outros alunos da sala de aula. Na classe de Pamela, há mais três estudantes surdos e ao menos três colegas ouvintes que sabem Libras - dois deles têm irmãos com a deficiência.
Visualidade Evidentemente, os processos de ensino precisam ser personalizados de acordo com a dificuldade exposta pelo aluno surdo. Segundo Rafael, as avaliações são atividades o mais visuais possível. Em uma aula de literatura do ano passado, uma das alunas apresentou em Libras, para a sala, o poema "Ismália", de Alphonsus de Guimaraens. As imagens fornecidas pelos versos sobre a mulher que enlouquece e põe-se na torre a chorar foram trabalhadas previamente junto com a estudante e depois recitadas em língua de sinais.
- Eu pego a matéria com o professor, acompanho o que ele fala em aula e depois desenvolvo atividades diferentes com aquele conteúdo, porque surdo é um ser visual. Não adianta eu impor muito texto logo de cara, porque a barreira da língua portuguesa não pode ser ignorada. Por exemplo: eu tenho autorização para gravar os trabalhos dos meus alunos, porque é um meio de avaliar.
Um trabalho sobre pirâmide alimentar, por exemplo, serviu de prova para o professor da disciplina.
- Elas fizeram um cartaz, apresentaram e eu gravei. Não basta só escrever a prova, é outro processo. Como o professor regente geralmente não sabe Libras, coloco uma legenda para ele poder avaliar e esse material é apresentado também aos outros alunos da sala.
Novas palavras Termos mais recentes usados em larga escala, como as redes sociais Twitter e Facebook, podem ter a origem do inglês, mas ganharam correspondentes em Libras e estão muito presentes no dia a dia da escola. Além de serem mencionados a todo instante por estudantes de qualquer etapa educacional, exemplificam as duas categorias de sinais em Libras: os sinais icônicos e os arbitrários.
Os icônicos são como o existente para Twitter, que remete a um passarinho, marca da rede social. Já os arbitrários não fazem qualquer alusão à palavra. Um exemplo é Facebook - duas mãos abertas (apenas o polegar encolhido) na vertical se movendo como se estivessem dando tchau uma para a outra.
Colega de Rafael na escola estadual, Francileide Alves Cordeiro tenta encontrar um caminho para que sua aluna do 9º ano, Thaís, de 17 anos, consiga compreender o significado das palavras em português. - Ela é copista, copia as letras, mas não atina para o que quer dizer a palavra "lua", por exemplo, se não mostrarmos a imagem para ela - relata a docente à colega Celeste, que trabalha na sala de recursos multifuncionais da escola, onde é oferecido o atendimento educacional especializado.
Este é o primeiro ano de Francileide como professora interlocutora de Libras. Para ocupar o cargo é necessário concluir 120 horas de curso preparatório. - Alcancei o nível considerado aceitável para lecionar para alunos surdos, mas estou me aprimorando.
Dificuldades Ela estuda há um ano e meio para a função e leciona inglês e português na escola estadual há quatro anos. Sempre busca por palavras em Libras referentes a disciplinas de história e ciências, nas quais não tem formação específica. Thaís, sua aluna, teve outros interlocutores na escola anterior, mas contou à nova professora que não conseguia entender o que diziam. Na família, com três irmãos ouvintes, a pessoa que mais conversa com ela em Libras é a avó.
Com o passar dos dias de aula, Francileide notou que a menina conhece só o básico de Libras e confunde muitos sinais, o que ficou evidente quando a professora disse à estudante para "tentar" escrever. - Ela me perguntou o significado do sinal para a palavra "tentar", e precisei explicar o conceito, procurando imagens na internet do celular para ela se dar conta do que era preciso fazer - lembra.
Em outra situação, Thaís usou o sinal de um palavrão quando queria dizer só a palavra "boba". Segundo Francileide, outra dificuldade é o número de faltas.
- Até março, a Thaís foi apenas durante uma semana completa e isso pode ter a ver com ela não se sentir estimulada, porque na outra escola ela conta que deitava a cabeça na mesa e dormia, nem copiar da lousa ela copiava - aponta a professora.
Um dos entraves para o surdo na escrita em português é compreender conjunções e preposições, classes de palavras que não existem na Libras.
- Quando passamos a interpretar Libras, dizemos "Gato rua" e não "O gato foi para a rua", mas a Thaís ainda não consegue escrever a frase completa em português sozinha, porque faltou esse preparo anterior - conta a professora Francileide.
Para escrever um pequeno conto hoje, pedido em exercícios do 9º ano, a estudante depende da professora para fazer a datilologia de cada palavra desejada, o que torna o trabalho um verdadeiro ditado soletrado.
Obras como o Manuário e o dicionário de ciências podem ajudar a travessia difícil de brasileiros como Pamela e Thaís, pegas no fogo cruzado de códigos de linguagem tão irmãos e tão distintos como a Libras e o português.
Atualizado: 25/04/2014 02:13 | Por ARTIGO: Claudia Costin, estadao.com.br
A aprovação de um currículo nacional foi o caminho escolhido pelos países que hoje têm os melhores desempenhos em educação
Com este título provocador, Escolarizar não é Aprender (Schooling Ain't Learning) LantPritchett , professor de Harvard, lançou um livro analisando um fenômeno recente nos países em desenvolvimento: as crianças pobres estão finalmente na escola, mas não estão aprendendo.
Com a triste marca de 57º lugar no Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa), exame internacional de Educação aplicado a jovens de 15 anos de 65 países, a sétima economia do mundo não tem do que se orgulhar.
Avançamos muito em matemática, mas ainda amargamos as últimas posições. O que fazer neste contexto? Pagar melhor os professores faz parte da resposta, mas não é a única coisa a fazer. Melhorar a infraestrutura das escolas é importante, mas tampouco resolve o problema.
Há que se estabelecer, com clareza, um currículo nacional, como fizeram os países com melhor desempenho. Com base nele, promover um esforço sério de formação de professores, assegurando-lhes não só o domínio de áreas temáticas, mas sobretudo a proficiência em sua prática de ensino.
Urge resgatar algo que a antiga escola normal fazia bem, ensinar a ensinar.
O currículo também pode ser a base para a produção de livros didáticos, de materiais de apoio e de capacitação para os docentes.
Sem saber quais as expectativas de aprendizagem, dificilmente se pode apoiar o professor, ter sequenciamento no ensino e promover interdisciplinaridade.
Um sistema de reforço escolar é fundamental. As crianças aprendem em ritmos diferentes. Apoiá-las demanda a construção de trajetórias educacionais distintas.
Até para experimentar caminhos inovadores em Educação, o currículo é essencial. Assim como a mensuração dos avanços. Caso contrário, continuaremos a disputar os últimos lugares em Educação e na construção do futuro.
CLAUDIA COSTIN É CHEFE DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO BANCO MUNDIAL
Capa da revista Revestrés (PI) do mês de fevereiro, o poeta maranhense Ferreira Gullar, 83, referendado pela publicação como "o maior poeta vivo do Brasil", inflama sua recente imagem controversa depois que passou a encetar o presidente Lula em suas crônicas dominicais no jornal Folha de S. Paulo.
Na entrevista concedida a Samária Andrade, Wellington Soares e André Gonçalves (com fotos deste último, uma delas ilustrando a capa-veja reprodução acima), em seu apartamento no Rio de Janeiro, bairro de Copacabana,Gullar fala sobre arte e política.
Confira algumas declarações de Gullar à Revestrés:
"No passado, todo mundo desconfiava da novidade. Hoje, quem desconfia da novidade tá desclassificado. O próprio museu tem que aceitar a novidade. Por isso ele se chama "Museu de Arte Moderna" (arrasta a palavra). Se ele não aceitar o casal nu, deixa de ser moderno.E o diretor do museu também tem que ser moderno. É tudo uma mentirada, tudo uma grande farsa. Enquanto isso, os verdadeiros artistas continuam a fazer arte".
"Novela é divertida, mas é uma bobajada, uma incoerência. A verdade é que ninguém que escreve novela quer continuar. Todos preferem fazer minissérie. Na novela você é prisioneiro de um gênero que tem que desenvolver com ou sem assunto...
A novela é feita pra ganhar dinheiro, não tem compromisso com a qualidade. Todos os autores sabem disso."
"O propósito de Cuba é o melhor e mais generoso possível: - querer a sociedade justa. Só que tá provado que o caminho não é esse e as pessoas não têm coragem de dizer. As pessoas vivem de mentira, é tudo hipocrisia, uma cretinice. Todo mundo quer ser libertário, aberto. Já reparou que não existe mais opinião? Tudo é preconceito. Qualquer opinião que contraria o que está estabelecido é preconceito".
"Os Estados Unidos são um país riquíssimo e continuam a explorar o trabalhador de uma maneira vergonhosa! É terrível, mas o capitalismo é isso! E mais: ele é produtivo porque segue a ambição humana, que não tem limite".
18/04/2014 / 10h35 - Atualizado em 18/04/2014 / 15h05
Escritor considerava que faltava filosofia e reflexão na sociedade atual. Autor manteve página na internet pelos últimos dois anos.
Do G1, em São Paulo, com informações da EFE
Desde setembro de 2008, José Saramago escrevia um blog, o Outros Cadernos. A página, que reunia textos inéditos e antigos, reflexões e trechos de entrevistas realizadas com o escritor português, que acreditava que a ferramenta fez as pessoas escreverem pior.
Pelo site, onde escreveu crônicas pessoais da atualidade com o olhar crítico que lhe era característico, estabeleceu uma nova forma de comunicação com seus leitores, que diariamente puderam compartilhar seus comentários, opiniões e reflexões sobre os mais variados eventos.
"Me impressiona, sobretudo, a rapidez da resposta dos leitores e a franqueza com que se expressam, como se estivéssemos entre colegas...", declarou.
Ao longo de sua experiência na internet, o prêmio Nobel de Literatura vivenciou em seu blog acontecimentos como a explosão da crise financeira mundial e o triunfo eleitoral de Barack Obama nos Estados Unidos.
Saramago fustigou a esquerda, repreendeu líderes da direita europeia (José María Aznar, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi) e se declarou ofendido pela "displicência" com que, em sua opinião, "o papa e sua gente" tratam o Governo espanhol.
O escritor confessou em seu blog que chorou quando foi citado pelo ex-deputado colombiano Sigifredo López na entrevista coletiva que concedeu após ser libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em fevereiro do ano passado.
López quis expressar sua gratidão à senadora Piedad Córdoba, âncora do movimento "Colombianos Pela Paz", e a comparou à mulher do médico protagonista do clássico "Ensaio sobre a cegueira", transformado em filme pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles.
De seu "Caderno", Saramago palpitou em assuntos da atualidade. Defendeu que fossem agravadas as penas de prisão aos autores de violência doméstica e assegurou que, com a morte do poeta uruguaio Mario Benedetti - em maio do ano passado -, "o planeta se tornou pequeno para abrigar a emoção das pessoas".
Também pelo blog, o escritor se juntou a uma campanha para a libertação da elefanta Susi do zoológico de Barcelona.
No ano passado, ele avisou aos leitores que daria um tempo a suas atividades de blogueiro para se dedicar a produção de um novo livro. "Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno", escreveu.
Nesta sexta-feira (18), dia de sua morte, o blog traz "Pensar, pensar", uma pequena reflexão do autor sobre a sociedade atual. - "Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma".
Os textos do blog de Saramago foram reunidos há um ano em um livro, intitulado "O caderno", que dedicou a sua esposa e tradutora, Pilar del Rio, inspiradora de sua experiência na internet.
Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, considerado por críticos como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois.
Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português -- o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, onde viveu até hoje.
Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).
O livro Ensaio sobre a Cegueira (1995) foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles em 2008.
A primeira biografia de Saramago, do escritor também português João Marques Lopes, foi lançada neste ano. A edição brasileira de "Saramago: uma Biografia" chegou às livrarias no mês passado, com uma tiragem de 20 mil exemplares pela editora LeYa.
Segundo o autor, Saramago chegou a pensar na hipótese de migrar para o Brasil na década de 1960.
"Em cartas a Jorge de Sena e a Nathaniel da Costa datadas de 1963, Saramago considera estes tempos em que escreveu e reuniu as poesias que fariam parte de 'Os Poemas Possíveis' como desgastantes em termos emocionais e chega mesmo a ponderar a hipótese de migrar para o Brasil. Esta informação surpreendeu-me bastante, pois não fazia a mínima ideia de que o escritor chegara a ponderar a hipótese de emigrar para o Brasil e por a mesma coincidir com o período da história brasileira em que esteve mais iminente uma transformação socialista do país", disse Lopes em entrevista à Folha.com.
Após lançamento da biografia, Saramago classificou a obra como "um trabalho honesto, sério, sem especulações gratuitas".
Nobel
Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em outubro de 1998, aos 75 anos.
Em comunicado à época, Real Academia Sueca assim justificou a premiação: "A arte romanesca multifacetada e obstinadamente criada por Saramago, confere-lhe um alto estatuto. Em toda a sua independência, Saramago invoca a tradição que, de algum modo, no contexto atual, pode ser classificada de radical. A sua obra literária apresenta-se como uma série de projetos onde um, mais ou menos, desaprova o outro, mas onde todos representam novas tentativas de se aproximarem da realidade fugidia".
Atuação política
Saramago teve forte atuação política. Em 1969 aderiu ao Partido Comunista, nessa época clandestino, e participou em Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974, no movimento que pôs fim à ditadura de Salazar.
Durante toda a vida teve relações apaixonadas e sempre controvertidas com Cuba de Fidel Castro.
Quando em 2003 aconteceu na ilha a prisão de 75 dissidentes e a execução, depois de um julgamento sumário, de três sequestradores de uma embarcação para Miami, teve uma primeira reação de moderado desacordo.
No entanto, ainda em 2003, afirmou, em uma carta pública, que "de agora em diante Cuba segue seu caminho, eu fico aqui. Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões".
Poucos meses depois diria ao jornal cubano "Juventud Rebelde": "Não rompi com Cuba. Continuo sendo um amigo de Cuba, mas me reservo o direito de dizer o que penso, e dizer quando entendo que devo dizê-lo".
Em 2008, Saramago saiu em defesa do escritor e poeta nicaraguense Ernesto Cardenal, marginalizado e perseguido pelo regime sandinista.
Também se remeteu contra o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, a quem acusou de ter "má consciência" e de ser "indigno de seu próprio passado" revolucionário.
Do presidente venezuelano Hugo Chávez disse, em 2007, que ele tem "métodos (que) podem ser discutidos", apesar de afirma que "Chávez não é nenhum problema, que é um homem que ama seu povo".
Ajuda ao Haiti
Saramago relançou em janeiro deste ano nova edição do livro A Jangada de Pedra, que tem toda a sua renda revertida para as vítimas do terremoto no Haiti. O relançamento da obra foi resultado da campanha "Uma balsa de pedra a caminho do Haiti", que doa integralmente os 15 euros que custará o livro (na União Europeia) ao fundo de emergência da Cruz Vermelha para ajudar o Haiti.
Em nota, Saramago havia explicado que a iniciativa é da sua fundação e só foi possível graças à "pronta generosidade das entidades envolvidas na edição do livro".
Obras publicadas
Poesias
- Os poemas possíveis, 1966
- Provavelmente alegria, 1970
- O ano de 1993, 1975 Crônicas
- Deste mundo e do outro, 1971
- A bagagem do viajante, 1973
- As opiniões que o DL teve, 1974
- Os apontamentos, 1976 Viagens
- Viagem a Portugal, 1981 Teatro
- A noite, 1979
- Que farei com este livro?, 1980
- A segunda vida de Francisco de Assis, 1987
- In Nomine Dei, 1993
- Don Giovanni ou O dissoluto absolvido, 2005 Contos
- Objecto quase, 1978
- Poética dos cinco sentidos - O ouvido, 1979
- O conto da ilha desconhecida, 1997 Romance
- Terra do pecado, 1947
- Manual de pintura e caligrafia, 1977
- Levantado do chão, 1980
- Memorial do convento, 1982
- O ano da morte de Ricardo Reis, 1984
- A jangada de pedra, 1986
- História do cerco de Lisboa, 1989
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, 1991
- Ensaio sobre a cegueira, 1995
- A bagagem do viajante, 1996
- Cadernos de Lanzarote, 1997
- Todos os nomes, 1997
- A caverna, 2001
- O homem duplicado, 2002
- Ensaio sobre a lucidez, 2004
- As intermitências da morte, 2005
- As pequenas memórias, 2006
- A Viagem do Elefante, 2008
- O Caderno, 2009
- Caim, 2009
Formado em Letras e Teologia, docente disse que o fato de exercer o magistério não pode cercear sua liberdade de escrever e criar; blog tem advertência voltada para internautas menores de 18 anos
SOROCABA - Um professor de gramática e literatura foi demitido de uma escola particular de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, no 8, depois de ter postado capítulos de um conto erótico em seu blog pessoal na internet. A escola alegou ter recebido reclamações dos pais de alunos contra o teor pornográfico dos textos. O professor, que leciona no ensino fundamental, com alunos entre 10 e 15 anos, alegou que o blog não tinha a ver com sua atividade pedagógica.
De acordo com a direção do estabelecimento, os pais reclamaram que o conteúdo do blog foi parar nas redes sociais, possibilitando o acesso dos alunos. Alguns contos tinham apelo ostensivamente erótico, como Ninfetinha, Leves Gemidos e De Quatro. Em sua defesa, o docente alegou que não utilizava o conteúdo do blog em classe. Formado em Letras e Teologia, ele disse que o fato de exercer o magistério não pode cercear sua liberdade de escrever e criar. Além disso, o blog continha uma advertência sobre o conteúdo, voltado para internautas maiores de 18 anos.
Após a dispensa, ele postou no blog e no Facebook que havia sido demitido sem chance de defesa. Em entrevista ao jornal O Vale, ele se considerou injustiçado. "Alegaram que os pais queriam processar a escola e a mim, sendo assim acharam melhor me demitir."
Segundo ele, seu perfil na rede social é visto apenas pelos seus amigos. "O problema é que vivemos em uma sociedade hipócrita, pois crianças e adolescentes assistem novelas com cenas fortíssimas de sexo em horários inapropriados. O intuito dos meus textos não é prejudicar, mas promover reflexão."
O professor leciona há dez anos e, fora do expediente, produz crônicas e contos que pretende reunir em um livro. "Pretendo seguir carreira como escritor e não quero ser visto como um libertino ou depravado. Jamais instiguei algum aluno a ler meus contos."
O caso repercutiu nas redes sociais. "Contos eróticos é o nome bonitinho que deram para pornografia", postou José Antonio da Silva. "Ah, o professor pegou pesado. Que tal se os pais prestassem atenção também nas novelas, nos quadros de sexo exibidos livremente?", respondeu o internauta que se identificou apenas como Paulo.