sexta-feira, 20 de maio de 2016

Filmes para trabalhar o holocausto em sala de aula

Anna Rachel Ferreira (annarachel@novaescola.org.br)

Há exatos 76 anos, em 20 de maio, o campo de concentração de Auschwitz entrava em funcionamento. Nele, milhares de judeus, e alguns outros grupos perseguidos pelo nazismo, foram mortos e torturados. Confira 7 filmes para ajudar a contextualizar o Holocausto e as suas consequências: http://abr.ai/1W4yQa5
Quer adaptar o assunto para plano de aula? Saiba como em: http://bit.ly/1W4zqon

 

O massacre da Segunda Guerra Mundial é um tema sensível a todos e ver as mudanças em seus retratos cinematográficos, além de ensinar sobre o tema, mostra como cada época o assimilou

A Segunda Guerra Mundial e o nazismo são temas recorrentes na arte. Contudo, existe um receio no momento de retratá-los. O assunto é polêmico e faz parte das aulas de História no Ensino Médio. A reportagem "O horror e o humor" (VEJA 2394, 8 de outubro de 2014) trata dessa questão do ponto de vista da literatura. O livro "The Zone of Interest" (algo como "zona sensível"), do escritor inglês Martin Amis, retrata um campo de concentração do ponto de vista de um militar nazista e foi recusado nas editoras com as quais o autor vinha trabalhando. Rejeição explicada pelo modo leve e aparentemente banal como os personagens lidam com o que acontece ao seu redor. Mas, será que o autor acredita ser banal o tema ou faz uma crítica a banalidade? Essa é uma discussão bastante pertinente.

Questionamentos como esse também podem ser levantados ao analisar a produção cinematográfica sobre o holocausto. O que aqueles diretores queriam dizer? Qual era a posição deles sobre o assunto? Como a sociedade contemporânea a esses artistas lidavam com o massacre da guerra? O que mudou em cada produção? Para o pesquisador Marcos Napolitano, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), é interessante variar, por exemplo, do melodrama para o documentário. "Depoimentos puros e simples fazem os alunos terem uma experiência real com o tema. Contudo, o melodrama lida com a emoção e mostra uma tendência do cinema para esse tipo de discurso", explica.

Com base nas indicações de Marcos Napolitano, reunimos sete filmes sobre o holocausto que podem render ricas discussões em sala de aula. Confira:

1. Noite e neblina (França, 1955)

Sinopse: Documentário encomendado pelo Comitê de História da Segunda Guerra Mundial. Mescla imagens coloridas dos campos de concentração e filmes de arquivos e traz um texto do escritor e ex-prisioneiro do nazismo Jean Cayrol (1911-2005).
Créditos: Alain Resnais. 32min. Com Michel Bouquet, Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler. Classificação indicativa: 18 anos.
Trecho do filme:



2. O diário de Anne Frank (EUA, 1959)

Sinopse: O filme se baseia na narrativa escrita pela adolescente Anne Frank, então com 13 anos, no período de 1942 a 1944. A garota narra a rotina da comunidade que se escondia no gabinete de seu pai em Amsterdã, na Holanda, enquanto partilha seus anseios e emoções.
Créditos: George Stevens. 180 min. Com Millie Perkins, Shelley Winters e Joseph Schildkraut. Classificação indicativa: Livre.
Trailer:


Confira plano de aula sobre o filme: http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/conte-que-populacao-civil-tornou-se-alvo-na-ii-guerra

3. A vida é bela (Itália, 1997)
Sinopse: Para proteger seu filho do terror e violência da guerra, Guido cria uma grande brincadeira enquanto ambos vivem em um campo de concentração nazista na Itália.
Créditos: Roberto Benigni. 116 min. Com Roberto Benigni, Nicoletta Braschi e Giorgio Cantarini. Classificação indicativa: Livre.
Trecho do filme:



4. O Pianista (França, Polônia, Alemanha e Reino Unido, 2002)
Sinopse: Inspirado nas memórias do pianista polonês Wladyslaw Szpilman, o longa retrata o Gueto de Varsóvia, onde os nazistas isolaram a comunidade judaica. Após ter sua família capturada, o pianista se escondeu em prédios abandonados até que a guerra terminasse.
Créditos: Roman Polanski. 150 min. Com Adrien Brody, Thomas Kretschmann e Frank Finlay. Classificação indicativa: 14 anos.
Trailer:


5. Shoah (França, 1985)
Sinopse: O título do filme quer dizer holocausto, na língua iídiche, idioma falado por comunidades judaicas do centro-oeste europeu. A obra é uma compilação de depoimentos sobre os campos de extermínio nazistas. A ideia é relatar e registrar o que aconteceu para que não seja esquecido.
Créditos: Claude Lanzman. 566 min. Com Simon Srebnik, Michael Podchlebnik e Motke Zaidl.
Trailer:



6. O menino do pijama listrado (EUA e Reino Unido, 2008)
Sinopse: Contado do ponto de vista de Bruno, um garoto de 8 anos, o longa conta a história de uma família cujo patriarca é designado a trabalhar no campo de concentração de Auschwitz. Em uma incursão pelas mediações da nova casa, Bruno faz amizade com um garoto preso no campo de concentração, com quem fala através das grades.
Créditos: Mark Herman. 94 min. Com Asa Butterfield, David Thewlis e Rupert Friend. Classificação indicativa: 12 anos.
Trailer:


7. Hannah Arendt - Ideias que Chocaram o Mundo (Alemanha, Israel, Luxemburgo e França, 2012)
Sinopse: A judia e alemã Hannah Arendt viaja a Israel para cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann para a revista norteamericana The New Yorker. Na volta escreve artigos polêmicos que embasam o que se tornaria a teoria de banalidade do mal. Seriam todos os nazistas monstros?
Créditos: Margarethe von Trotta. 113 min. Com Barbara Sukowa, Axel Milberg e Janet McTeer. Classificação indicativa: 12 anos.
Trailer:


A cientista política, aliás, é referência também por suas reflexões sobre a Educação. Conheça as ideias de Hanna Arendt sobre Educação. Clique aqui.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Hem-hem uma marca polissêmica do falar maranhense


O uso de material de referência é essencial na preparação do professor de Português

José Neres*


 
A farta extensão territorial do Brasil permite que, mesmo tendo uma língua em comum, pessoas de diferentes origens se expressem de modos distintos, utilizando palavras e expressões que são usuais em uma comunidade linguística, mas totalmente desconhecidas em outra, embora nem sempre a distância física entre os dois territórios seja grande.
Essas marcas regionais dificilmente são transferidas para a escrita, mas invariavelmente se manifestam durante a fala. Não é à toa que Rousseau, em seu Ensaio Sobre a Origem das Línguas, afirma que ninguém sabe de onde um homem é até que ele comece a falar. A presença de um falante de determinada variante fonética em um ambiente linguístico diferente é denunciada tão logo ele comece a se comunicar oralmente. Não demorará muito para alguém sair com uma das seguintes frases: "Você não é daqui", "Você fala engraçado", "Você fala de modo estranho" ou "De onde você é?".
Nem sempre se trata de preconceito, mas sim de um processo de identificação acústico-fonético quase imediato pelo qual qualquer pessoa pode passar quando adentra em uma comunidade com padrão de pronúncia diferente daquela com a qual já estamos acostumados.
Porém, não é só pela pronúncia que a identidade linguística de alguém se manifesta. Há também o caso do vocabulário específico de determinadas regiões. Algumas dessas palavras acabam saindo dos limites regionais e se tornam conhecidas em um território mais vasto, servindo ora como referencial cultural, ora como espécie de caricatura dos representantes das localidades de onde tais vocábulos foram disseminados. Dessa forma, o Brasil inteiro costuma associar a palavra "trem" aos mineiros; "painho" e "mainha" aos baianos; "visse" ao pernambucano, e "tchê" aos gaúchos.
Quase sempre de maneira jocosa, como mote para brincadeiras que possam denegrir a imagem dos alvos das anedotas.
Ensaio Sobre a Origem das Línguas
A obra só foi publicada depois da morte de Rousseau e não há consenso sobre quando foi escrita, embora seja considerada parte do período inicial de produção do filósofo. O texto é dividido em três partes: a origem da linguagem, que discorre sobre o estudo da necessidade de comunicação no homem natural; a diferenciação das línguas, que estuda a evolução dos grupos humanos e dos meios de expressão; e a questão da música, que relaciona questões musicais com a evolução linguística e social.

Um vocabulário bem maranhense
No Maranhão, estado conhecido por sua culinária, por sua literatura e por seus baixíssimos índices de IDH, há várias palavras que se tornaram marcas identitárias do povo. Algumas palavras denunciam a presença de um maranhense em outra localidade. Infelizmente, não são muitos os estudos que se dedicam a verificar as variantes regionais.
No caso de Maranhão, de um lado temos trabalhos de cunho científico, como o projeto Alima - Atlas Linguístico do Maranhão, coordenado pelos professores José de Ribamar Mendes Bezerra, Maria da Conceição Ramos e Maria de Fátima Sopas Rocha, além dos pioneiros estudos sociolinguísticos do professor Ramiro Azevedo. O folclorista José Raimundo Gonçalves também organizou um pequeno glossário de palavras e expressões bastante usuais no Maranhão (o Pequeno vocabulário popular do Maranhão). Do outro lado, temos as facilidades da internet, com seus blogs e sites de relacionamento que divulgam para o mundo curiosidades vocabulares que até bem pouco tempo eram conhecidas somente entre os habitantes do Estado ou dos visitantes que se divertiam com as "pérolas" encontradas nas conversas de bares e esquinas.

A polissemia do hem-hem
O vocabulário maranhense é bastante diversificado. É possível, durante uma viagem ao sul do Estado, encontrar alguém que, aconselhando a um amigo ou a uma amiga, diga: "Deixa de inticar com essa puaca do móveis, ela é enfarenta mesmo", que, em uma tradução ficaria mais ou menos assim: "Deixe de se chatear com essa poeira que se acumula sobre os móveis, ela aborece mesmo."
Porém poucas são as pessoas que se preocupam em estudar uma palavra/ expressão que é uma das marcas registradas do falar maranhense: o hem-hem.
Polissêmico por natureza, assim como as palavras coisa e ponto, o hem-hem tem o poder de metamorfosear seus múltiplos significados de acordo com o contexto em que esteja inserido. Em si, a palavra nada significa. Contudo, quando utilizada em uma situação frasal, ganha dimensões que vão além do que pode prever um estudo superficial.

baixíssimos índices de IDH
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) serve como parâmetro para avaliar o bem-estar de uma população por meio da medição de três critérios: riqueza, educação e expectativa média de vida. O índice foi desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq e desde 1993 é adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Historicamente, o Maranhão ocupa a pior posição no ranking brasileiro do IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, uma adaptação do IDH para o Brasil).
Pode significar sim quando um marido pede para a esposa se apressar e escuta: "Hem-hem, meu amor, já estou pronta!". Mas também pode ter o valor de um não, quando um irmão pede para o outro levar um copo de água e recebe como resposta: "hem-hem, por mim você morre de sede. Não sou seu empregado!". Na réplica, o termo pode assumir um tom de ameaça: "hem-hem, você me paga!". Às vezes, expressa uma interjeição de susto, quando a namorada diz a seu amado que está grávida. Ele diz: "Hem-hem, você está brincando, né!", mas também pode demonstrar resignação, quando o mesmo namorado tem que assumir suas responsabilidades: "Hem-hem, que que eu posso fazer..."
O hem-hem pode ser dito de forma rápida, para pôr fim a uma conversa ou a um assunto. O rapaz pergunta para a namorada se ela quer mesmo acabar com a relação, e ela responde com um breve "hem-hem", vira as costas e vai embora. Mas quando pronunciado de forma alongada, pode demonstrar atenção total ao que é dito, como quando alguém decide contar um segredo e escuta um "hem-heeeeeem", que tanto pode ser de aprovação, de reprovação ou simplesmente um sinal para continuar a narrativa.
Há casos em que a expressão é usada para iniciar uma conversa mais séria. O pai chega para a filha e diz: "Hem-hem, agora quero falar sobre aquele rapaz que anda ligando para você.", ou pode apresentar um tom desafio: "Hem-hem, papai, quer dizer que o senhor anda mexendo em meu celular, hem?".
De acordo com a necessidade, pode encerrar uma conversa: "Hem-hem, minha amiga, depois falamos", mas também pode servir como elemento fático e demonstrar interesse ou desinteresse do receptor com relação ao assunto discutido, deixando claro no contexto que a conversa pode continuar ou não: "hem-hem, pode parar." ou "Hem-hem, continua, continua!". Quando alguém fala muito ao telefone, sem dar tempo de responder, o interlocutor, que nem sempre está atento à conversa, pode valer-se de um "hem-hem" como forma de demonstrar que está entendendo o interminável monólogo.
Como apresenta multiplicidade de sentidos, essa palavra serve também como forma de causar ambiguidade, pois diante de uma pergunta como "A festa foi boa?", um simples hem-hem como resposta, sem uma entonação enfática e sem uma complementação da ideia, não fica claro se a resposta é positiva ou negativa.
Como apresenta multiplicidade de sentidos, essa palavra serve também como forma de causar ambiguidade, pois diante de uma pergunta como "A festa foi boa?", um simples hem-hem como resposta, sem uma entonação enfática e sem uma complementação da ideia, não fica claro se a resposta é positiva ou negativa.
 
O falar maranhense na prática
O analista de sistemas maranhense Armando Henrique de Jesus resolveu, em um momento de ócio, escrever uma pequena história fictícia utilizando o máximo de expressões típicas da região que marcaram sua infância. O texto não demorou a se espalhar pela internet e é reproduzido aqui com autorização do autor:
Um dia na vida de Reginete
Por Armando Henrique ("Piruca")

Reginete, a empregada da casa do Vieira, chega da Rua Grande toda querendo ser, de traca amarela, uma japonesa bandeirosa com pontuação 2 números acima da sua, rebolando e exibindo sua calça nova, daquelas bem apertadas e lá no rendengue, que comprou para sair à noite. Logo gerou um bafafá das invejosas de plantão.
- Olha a barata do Vieira. Quer se aparecer! Tá escritinha uma fulêra!
E tu parece uma nigrinha dando conta da vida dos outros - retruca à mulher Seu Barriga, que estava só coíra descansando em um pequeno mocho na porta de casa.
Porém, despertou também o interesse de toda a curriola da rua. A galera do chucho parou para secar a moça. Até quem tava no desafiado.
Guga largou de empinar seu papagaio aos gritos de "lá vaiii lá vaiii...", batendo tala, mas sempre na guina para lancear melhor e com uma bimbarra do freio reforçada e linha puída pelos amigos que o sabotavam pisando disfarçadamente, para admirar:
- Éguass Reginete! Tá pintosa como quê!
- Hmmmm piqueno. O que é heim? Só porque tô com minha calça nova? Comprei na Lobrás ontem tá?!
Victor, garoto que vivia cheio de curubas nas mãos por causa de suas carambelas no asfalto, desinformado, questiona:
- O que é Lobrás?
- É uma loja, abestado. Ao pegado da Mesbla. Defronte as Pernambucanas. Onde a gente vai sempre capar bombom - corta Guga.
Nesse momento, Caverna, o mais delegado das peladas, largou sua curica, feita de talo de coqueiro e folha de caderno, e veio, catingando que só ele, arrumar cascaria com Guga.
- O quê que tu quer?! A nêga é minha.
- Hmmmm tu quer te amostrar pros teus pariceiro? Te dôle um bogue!!!
- Me dáli??? Rapá, tu não me trisca!!!
E a galera vem zilada jogar lenha na fogueira.
- Éééésseeeeee!!! Tá falando da tua mãe!!! Chamou de qualhira!
- Ééélasss... eu não deixava!!! Cospe aqui - diz Dudu, que só andava na calha, estendendo a mão.
Mas Guga não entra na conversa dos amigos:
- Rapá, negada só querem ver a caveira dos outros!
- Ihhh gelão... cagou ralo heim Guga!!! Tá aberando!!!
Até que chega Lombo, o mais velho da turma, que jogava peteca naquele momento. Ele tinha o costume de quebrar as petecas alheias na brincadeira do cai, dando um china-pau com seu cocão de aço, principalmente se fosse numa olho de gato. Utilizava, também, o recurso do olhinho, mas dificilmente só bilava. Pediu limpo, completou matança nas borrocas e depois foi pro casa ou bola. Às vezes porco ou leitão visitando. Ele intervém gaguejando:
- Ê Caaaa-Caverna, tu tu tu já tá coisando os outros aí né?! Vai já levar um sambacu!
- Hen heim. Vamo já te dar um malha - confirma Guga, aliviado com a intervenção de Lombo.
- Hen heim - retruca Caverna imitando Guga com voz afeminada.
- Não me arremeda não!!! Olha o raspa!!!
- Ahhh... te lascar!!!
Depois do furdunço por sua causa, Reginete sai toda empolgada de lá e decide dar logo uma parada na quitanda da Zefinha, lembrando que seu Vieira havia pedido que ela comprasse alguns ingredientes para garantir o fim de semana, já que Dona Veridiana ainda não havia feito a Lusitana do mês.
- Oi Dona Zefa. Quero camarão seco pra botar na juçara da dona Veridiana e fazer arroz de cuxá. Me veja 3 Jeneves também, 2 quilos de macaxeira, um lidileite alimba, 2 pães massa fina e 4 massa grossa! Ahh... e uma canihouse pra eu fazer a base pra noite!
A senhora vai checar seu estoque no freezer e retorna:
- Ê essa outra... só tem Jesus. Vais querer? Vais querer quantas mãozadas de camarão?
- Três tá bom. E pode ser Jesus sim.
Ao chegar em casa com as compras, seu Vieira repreende a moça:
- Tu fica remancheando pra trazer o cumê. To urrando de fome aqui já! Cuida piquena!! Vou só banhar e quando voltar quero ver tudo pronto.
- Ô seu Vieira... o senhor é muito desinsufrido! Já to arreliada com uma confusão dos meninos na rua. Não me aguneia! Confie ni mim que faço tudo vuada! O senhor sabe que...
- Já seiii... tá bom... aí fala mais que a nêga do leite. Eu heim?! - seu Vieira interrompe.
Neste momento chega Marquinho, filho do seu Vieira, com a equipagem da Bolívia Querida toda suja. Sinal de mais trabalho pra Reginete.
- Menino, olha essa tua roupa. Tava num chiqueiro era? Vai ficar encardidinha! Isso não sai não! E esses brinquedos?! Tudo esbandalhado! Aí não tem jeito! Olha... tá só o cieiro (ou ceroto, como queiram)!
- Tava jogando travinha com os moleques! Não enche e me dá logo esse refri aí que to com sede.
- Hum Hum. Isso é do seu Vieira!
- Marrapá! Por quê?! Deixa de canhenguice, piquena!
- Deixa eu cuidar comigo que ainda quero sair hoje pra radiola no clubão! Vai rolar só pedra!
Passada a janta, Reginete já exausta lava a louça e reflete sobre seu evento da noite: "Já estou é aziada e as meninas não ligam. Amanhã começa mais um dia de trabalho e se sair hoje ainda fico lisa pro fim de semana!". A moça muda de idéia segue sua rotina. Todos os preparativos para a noite foram em vão? Nãããã! O importante foi chamar a atenção e não se achar mais uma no meio da multidão!

  ALiMa
O departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) é responsável pelo projeto do Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMa), que, por meio de gravações feitas nos municípios do estado, documenta e analisa a linguagem falada no estado em diferentes níveis de observação (pronúncia, vocabulário, entonação, organização da frase etc). O trabalho avalia mais especificamente o campo da Geolinguística, o uso da língua distribuído no espaço geográfico. Mais informações no site da universidade: http://www.cch.ufma.br/alima.php


*Professor da Faculdade Atenas Maranhense, mestrando em Educação pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: joseneres@globo.com; blog: www.joseneres.blogspot.com